A forma de transmissão clássica, observada antes do surto atual em países da África onde a doença é endêmica, sempre envolveu contato próximo, de pele ou grandes gotículas de secreção respiratória.
Fora da África, a doença sempre ficou restrita a poucos casos entre pessoas que viviam na mesma casa. Este já é o maior surto da doença na história — os primeiros casos foram detectados no começo de maio, no Reino Unido e na Espanha.
Atualmente, o padrão de transmissão está associado com atividade sexual (95% dos casos), conforme mostrou um estudo publicado na semana passada no The New England Journal of Medicine conduzido em 16 países.
Os pesquisadores mostraram que, no momento, a doença se concentra entre homens que fazem sexo com homens, mas qualquer pessoa está sujeita a pegar.
Isso se deve à "baixa imunidade global aos orthopoxvirus [família do monkeypox] e ao aumento de indivíduos suscetíveis", afirmou em entrevista coletiva, na quarta-feira (27), a líder técnica de varíola do macaco da OMS (Organização Mundial da Saúde), Rosamund Lewis.
A agência sanitária confirmou pela primeira vez que a doença pode classificada como sexualmente transmissível.
O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos resume as principais formas de transmissão do vírus.
• Contato direto com as lesões de pele de uma pessoa infectada ou com fluídos corporais.
• Secreções respiratórias durante contato prolongado, face a face, ou durante contato íntimo, como beijo, carinho ou sexo.
• Tocar em itens (como roupas ou lençóis) que foram usados por alguém com a doença.
Sendo o contato sexual a principal forma de infecção pelo vírus monkeypox neste momento, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reforçou a importância da proteção individual.
"A melhor forma de fazer isso [frear a taxa de transmissão] é reduzir o risco de exposição. Isso significa fazer escolhas seguras para você e para os outros."
O chefe da OMS deu três recomendações comportamentais:
• Reduzir o número de parceiros sexuais.
• Reconsiderar ter novos parceiros sexuais neste momento.
• Trocar contatos com parceiros sexuais – em caso de detecção da doença, isto facilita o rastreamento.
"É uma doença que se transmite por contato próximo, existem outros modos de transmissão, não só o contato sexual, existe o contato pele a pele e de mucosas. É importante que qualquer pessoa que tenha varíola do macaco se isole para proteger as pessoas com quem convivem", acrescentou Rosamund.
Como forma de evitar a doença, o CDC dá as seguintes orientações:
• Não ter contato de pele com pessoas que tenham erupções cutâneas que se pareçam com as de varíola do macaco (algumas podem se parecer com espinhas).
• Não beijar, abraçar ou ter relações sexuais com pessoas que estejam com a doença, mesmo que seja suspeita.
• Não compartilhar objetos, como talheres e roupas de cama com pessoas que estejam com varíola do macaco.
Adicionalmente, especialistas ouvidos pela emissora de TV NBC Chicago recomendam, por exemplo, evitar o compartilhamento de copos de bebidas, cigarros e vapers em festas.
Indivíduos com diagnóstico confirmado ou suspeita devem ficar isolados pelo período em que houver lesões na pele – entre duas e quatro semanas.
Se for necessário sair, é importante usar roupas que cubram as erupções cutâneas. As que estiverem expostas, no rosto ou nas mãos, por exemplo, podem ser cobertas com curativos, como aqueles usados após exames de sangue.
Alguns locais, incluindo cidades nos Estados Unidos, já estão vacinando alguns grupos da população com a única vacina aprovada contra o vírus monkeypox, produzida pelo laboratório dinamarquês Nordic Bavarian.
O Brasil até o momento não tem encomendas do imunizante.
Além das tradicionais lesões cutâneas, alguns dias antes, as pessoas infectadas podem apresentar sintomas genéricos de alguma infecção. São eles:
Ocorre que nem todas as pessoas que têm as erupções na pele têm esse período de sintomas prévio e podem confundir as lesões, deixando a doença passar despercebida.
Por isso, é importante estar atento ao período de incubação e a uma eventual exposição, principalmente por contato sexual.
As manifestações genéricas costumam surgir entre cinco e 21 dias após o contato com o vírus.
O teste para detecção do vírus requer que haja presença de pelo menos uma lesão de pele ou mucosa.
O exame consiste na coleta de material da própria lesão. O processo laboratorial é de PCR em tempo real, mesma tecnologia usada no exame de Covid-19.
Na cidade de São Paulo, local que concentra o maior número de casos do país, a prefeitura anunciou no fim de semana que Unidades Básicas de Saúde e prontos-socorros poderão realizar os testes.
Até então, os casos estavam todos concentrados no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, e os exames de todo o estado eram realizados somente no Instituto Adolfo Luz.
Ainda não há cobertura dos testes de vírus monkeypox pelos planos de saúde.
O que ainda intriga a ciência sobre a varíola do macaco