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Com Sandro Moraes

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Rejeição e abandono: como pessoas que cresceram sem o pai foram impactadas pela ausência

Especialista afirma que \\

Publicada em 14/08/22 às 05:04h - 3979 visualizações

por TV & RÁDIO REGIONAL


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Até abril deste ano, 56,9 mil recém nascidos foram registrados sem o nome do pai no Brasil  (Foto: TV & RÁDIO REGIONAL)
O Dia dos Pais, celebrado neste domingo (14), é motivo de alegria para muitas famílias. Por outro lado, no entanto, algumas pessoas não conseguem comemorar essa data da mesma forma por terem sido abandonadas pelo seu genitor ainda na barriga da mãe. Em todo o Brasil, só de janeiro a abril deste ano, 56,9 mil recém-nascidos foram registrados sem o nome do pai, segundo a Arpen Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).

A designer de sobrancelhas Emanuela Rodrigues, de 18 anos, e que mora na zona norte de São Paulo, contou a reportagem sobre as dificuldades de ter crescido sem o pai, que nem sequer quis registrá-la. Segundo ela, o homem chegou a conhecê-la e fez com que a mãe a levasse para fazer um teste de paternidade. Antes mesmo de sair o resultado, ele fugiu e não assumiu a menina.

"Desde pequena eu via todas as minhas amigas com os pais e eu não sabia lidar com aquilo, então foi gerando uma mágoa dentro de mim. Até os meus 15 anos eu tive bastante crise de ansiedade e depressão e sempre pensava nisso, que meu pai me rejeitou", desabafou.

Apesar de ter tido a ajuda do padrasto na criação junto com a mãe, Emanuela diz que não teve o carinho de um pai, como gostaria.

A psicóloga Claudia Oshiro, professora do departamento de psicologia clínica da USP (Universidade de São Paulo), explicou que a ausência do pai interfere no desenvolvimento das crianças. "Elas se sentem abandonadas e rejeitadas por uma pessoa que deveria amá-las", disse.

Pode ocasionar, segundo a especialista, baixa autoestima, transtornos psicológicos e carência, porque procuram sempre por alguém significativo para tampar a ausência do pai. Além disso, pode ser que a pessoa tenha dificuldade em estabelecer vínculos.

Para o advogado Erick Santos, de 35 anos, e que mora na zona oeste da capital, crescer sem um pai deixou a vida dele com algumas lacunas não preenchidas. "Por ter sido criado com a mãe, irmãs mais velhas, tia e avó, eu não tive ninguém para me ensinar a fazer a barba ou jogar futebol, não cresci em um ambiente que tivesse uma figura masculina, tive que me virar para aprender", conta.

O advogado reconhece a responsabilidade que é assumir uma criança, mas afirma que pais que abandonam perdem muito a "parte positiva" de participar da criação de alguém. Ele afirma que seu genitor perdeu todo o desenvolvimento que teve, evolução e conquistas, méritos esses que divide com a família que sempre esteve do lado. "Se eu pudesse conhecê-lo hoje, diria o quanto ele perdeu por não ter visto onde eu cheguei", disse.

Emanuela, por outro lado, diz que desejaria um feliz Dia dos Pais ao genitor dela se o visse, mesmo que ele não tenha feito o papel de um. "Até disse para o meu marido que queria achá-lo, mas não tinha endereço, telefone, não consegui".

Pai é quem cria

"Apesar de o padrasto não ser a pessoa que gerou aquela criança, biologicamente falando, ele pode ser a presença de alguém que está criando e educando. Então, nesse sentido, se o pai está ausente, e o padrasto é amoroso e afetivo, de fato pode-se concordar com aquela frase que diz que 'pai é quem cria'", afirmou a psicóloga Claudia Oshiro.

Essa ideologia não serve para todos, como no caso de Emanuela. Mas a estudante de odontologia Giovanna Campos, de 21 anos, que é moradora da zona norte de São Paulo, teve a sorte de a mãe casar de novo com uma pessoa que, hoje, ela considera e até chama de pai.

Giovanna foi registrada pelo pai biológico, mas aos 4 anos, os pais dela se separaram e o homem casou com outra mulher. Ela se sentiu jogada de lado porque os dois eram íntimos e, do nada, tudo mudou.

“Me senti rejeitada. Tinha baixa autoestima, um medo de rejeição enorme e não entendia o motivo de ele ter se afastado tanto depois de ir embora, eu continuava sendo a filha dele”, desabafou.

Até que o padrasto, Paulo, apareceu. No início, ela teve problemas com ele por não aceitar ainda a separação dos pais, mas um tempo depois os dois criaram uma relação afetiva. Ela conta que, após o irmão nascer, achou que isso mudaria, devido ao fato de o bebê ser filho biológico dele e ela não. Com o passar do tempo, o relacionamento dos dois melhorou.

"Hoje ele é o meu pai e eu não consigo nem imaginar os problemas que eu teria desenvolvido se não tivesse o amor dele ou se ele tivesse desistido de mim no começo”, completou Giovanna.

A psicóloga Claudia Oshiro conta que, para amenizar os impactos deixados por pais ausentes, ela aconselha que a pessoa faça psicoterapia. Algumas universidades oferecem gratuitamente, inclusive. "É importante a gente entender a nossa história, resignificando tudo aquilo que aconteceu com a gente, entendendo o que é do pai e o que é nosso, para que possamos seguir uma vida que vale a pena ser vivida, sem ficar amarrado às angústias", concluiu.

*Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez e Márcio Pinho




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