Buscando recomeço de vida e novas oportunidades, Jundiaí é uma das paradas de refugiados afegãos que chegam ao Brasil após fugirem de seu país por motivos políticos e religiosos, como perseguições, guerras e assassinatos em massa. Atualmente, 62 afegãos estão em quarentena na sede da Ong Panahgah, em um hotel desativado, no bairro dos Fernandes, recebendo as orientações necessárias. Destes, 35 são crianças.
As sete famílias que já passaram por um período de quarentena de pelo menos dez dias já estão morando em definitivo em Jundiaí. As outras, ainda não foi definido o destino. Segundo a conselheira jurídica da Panahgah, Sindy Nobre Santiago, durante a quarentena são oferecidos habitação, documentação legal, aulas de português, revalidação de documentos, escola e bolsa de universidade, atendimento psicológico, reabilitação pós-trauma e vacinação, além de outros serviços de apoio necessários.
"Ao saírem do país, eles chegam desesperados querendo arranjar emprego e matricular os filhos na escola. Depois de completarem a quarentena e receber toda orientação necessária, os voluntários da ONG analisam o currículo e o perfil de cada refugiado e sugerem uma cidade para eles morarem e retomarem suas vidas normais, sempre acompanhados por responsáveis", afirma Sindy.
De acordo com a conselheira jurídica, a organização foi fundada em agosto de 2021, no momento em que o Talibã (movimento nacionalista radical islâmico) assumiu o poder do Afeganistão e o povo contrário a ele começou a ser caçado e perseguido no país, resultando na morte de muitas famílias. "A adaptação, apesar de parecer complexa, é rápida e tranquila, principalmente para mulheres e crianças. Logo quando eles chegam, as crianças têm acesso à educação e todos são cadastrados no SUS. A adaptação no Brasil representa um alívio para os refugiados, principalmente para as mulheres que, no Afeganistão, não tinham direito de estudar, trabalhar e nem sair de casa sozinhas", lamenta a voluntária.
REFÚGIO
Panahgah significa 'refúgio seguro' em persa, idioma oficial do Afeganistão. Um dos afegãos que chegou em Jundiaí e está completando a quarentena é o engenheiro de segurança, Elham, de 25 anos, que está na cidade há 13 dias e pretende recomeçar sua vida no Brasil, após fugir do país por questões governamentais e perseguição política. "A recepção em Jundiaí foi incrível, as pessoas são muito gentis e me ajudam em tudo que eu preciso. Após completar a quarentena vou para Campinas com o objetivo de arranjar um novo emprego e retomar minha vida com segurança", comemora o refugiado que não quis dar o sobrenome.
Assim como Elham, o afegão Byte (nome fictício), de 30 anos, também fugiu do país pelo mesmo motivo, após o Talibã retomar o poder. Ele saiu do Afeganistão sozinho e espera a chegada da sua mãe e seu irmão. "Foram cinco meses de espera para a retirada do visto brasileiro até finalmente chegar em Jundiaí, onde fui muito bem recebido e orientado. Agora estou indo para Campinas e espero reencontrar minha família nos próximos meses em minha nova casa", afirma.