A praça ao lado da rodoviária de Boa Vista ainda é um ponto de encontro de imigrantes venezuelanos. Eles tomam as calçadas à espera de parentes, amigos e conhecidos. O movimento já foi maior, mas ainda impressiona quem vê a cena.
Acomodados sob as árvores, eles procuram passar o tempo com um pouco mais de ar fresco, pois a temperatura na capital de Roraima passa facilmente dos 35 graus. E o tempo na região amazônica é abafado. Nessas rodas, naturalmente, o idioma é o espanhol.
Faz pouco mais de um mês que Alberto Falcon frequenta esse local. Durante a noite, o analista de sistemas, de 40 anos, dorme num dos abrigos da capital destinados aos imigrantes. Mas a vontade de conseguir um trabalho temporário, um bico, coloca-o nas ruas de Boa Vista, com muito sol forte, atrás de algo. Não tem sido fácil. Mesmo assim, Alberto garante, essa situação é melhor que a vida que tinha na Venezuela. Ele diz: “Aqui está muito difícil arrumar emprego. Mas consigo algo para comer e sobreviver com a família.”
Alberto está prestes a deixar Roraima para trabalhar em Mato Grosso do Sul. Tem sido assim com muitos outros. O mercado de trabalho local não consegue absorver os milhares de migrantes que chegam há anos do país vizinho. “A minha intenção é ganhar algum dinheiro aqui no Brasil e poder ajudar ou trazer a minha família que ficou na Venezuela.”
Na Operação Acolhida, organizada pelo governo brasileiro, é que essas pessoas conseguem, além de serem recebidas com abrigo, comida, saúde e visto brasileiro, um encaminhamento para que se estabeleçam em outras regiões do país.
Desde 2018, quando os trabalhos tiveram início, até setembro de 2022, 84.463 venezuelanos foram atendidos, segundo o Ministério da Cidadania. Na prática, são pessoas que foram realocadas para outros estados. Santa Catarina é o que mais recebeu: foram 16.140 imigrantes. Depois vem o Paraná, com 14.640, e o Rio Grande do Sul, com 12.805. Aí aparece São Paulo, com 10.978.
A maioria desses imigrantes, 89%, viaja em grupos familiares. Mesmo assim, 11% encaram a saída da Venezuela sozinhos. Muitos vêm apenas com a roupa do corpo ou, no máximo, uma bolsa pequena. É uma viagem arriscada, em que eles estão sujeitos a diversas situações. Alguns, como Alberto, conseguem caronas, pegam um ônibus para um destino mais curto. Mas uma parte ainda se desloca a pé, cruza rios com água na altura do peito, caminha à noite dormindo, quando o corpo simplesmente não aguenta mais. Tudo para sair da Venezuela do ditador Nicolás Maduro, comandante de esquerda que essas pessoas afirmam não se importar com o povo.
Alberto, que em breve vai morar em Campo Grande, ainda não sabe direito como será a vida no Centro-Oeste brasileiro. Mas a confiança que o trouxe até aqui é o que o move para frente. Ele quer apenas ter uma vida digna para a família, algo que sua terra natal não tem conseguido proporcionar há mais de duas décadas.