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Com Sandro Moraes

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\\\'Meta de emprego\\\' sugerida por Lula pode fazer Banco Central abandonar sua função

Ex-ministro, ex-diretor do BC e economista do mercado veem na proposta um sério prejuízo para a estabilidade econômica

Publicada em 27/10/22 às 07:53h - 3522 visualizações

por TV & RÁDIO REGIONAL


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Edifício do Banco Central no Rio de Janeiro; órgão define a taxa básica de juros  (Foto: TV & RÁDIO REGIONAL)

Para que serve um banco central? Como é decidida a política monetária e como são definidos os juros da economia? Quem tem controle sobre a inflação? Essas três perguntas, que podem assustar muita gente, principalmente quem não conhece economia, são fundamentais, não apenas para entender por que os preços sobem e o poder de compra diminui, mas também para avaliar se as propostas de um político são viáveis e benéficas para o país e para o povo. Ainda mais a três dias do segundo turno da eleição para o cargo de presidente da República

Em uma das entrevistas concedidas ao longo da campanha, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o BC (Banco Central) “precisa assumir outra responsabilidade”, alegando que o único mecanismo que o órgão tem é aumentar a taxa de juros. Na ocasião, o candidato afirmou que o banco, que tem “poder para taxar e dar meta de inflação, precisa dar meta de crescimento econômico e a meta de emprego que nós vamos criar”.

Quanto ao 'único mecanismo' do BC, mencionado por Lula, a referência é à Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, que é definida periodicamente, conforme calendário da instituição, nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária). O encontro mais recente foi finalizado na quarta-feira (26), e teve como resultado a manutenção dos juros em 13,75% ao ano

Por meio da Selic, os diretores do BC tentam manter sob controle a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Garantir a estabilidade de preços é, portanto, o objetivo fundamental do banco, desde 24 de fevereiro de 2021, quando foi promulgada a Lei Complementar n°179, que estabeleceu a autonomia do órgão. 

Desvio de função

Por isso, a ideia do ex-presidente, de atribuir ao Banco Central a criação de metas de emprego e de crescimento econômico, é vista como equivocada e como 'um erro' por pessoas que já passaram pela diretoria do BC, pelo Ministério da Economia, e que também atuam no mercado financeiro. 

"Isso faria o Banco Central abandonar sua função essencial, que é estabilizar a economia", afirma Maílson da Nóbrega, que foi ministro da Fazenda entre 1988 e 1990, no governo de José Sarney. "O BC não tem instrumentos para contribuir com a geração de empregos, essa é uma política 'voo de galinha': dá um salto e cai logo na frente", ilustra.

Para o ex-ministro, o maior risco é acontecer o efeito contrário, "destruir a estabilidade, desacelerar o crescimento e desabar a criação de empregos". A medida afastaria o banco da meta de inflação. "Na condução da política econômica, é preciso muito engenho e arte, se não, não seria necessário ter pessoas, poderíamos usar máquinas", diz Nóbrega.

Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central e consultor econômico independente, considera a sugestão de Lula um erro. "A meta só iria atrapalhar. Eu trabalhei anos no BC, e nunca vi uma diretoria despreocupada com o nível de emprego e de atividade econômica. Nenhum presidente do banco deixou de manifestar preocupação com isso." 

Ele lembra que, na lei de 2021, da autonomia do BC, ficou estabelecido que, além de ter a manutenção de preços estáveis como principal objetivo, a autoridade monetária também deve zelar pela estabilidade e eficiência do sistema financeiro, atenuar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego. 

"O BC cuida do equilíbrio macro, que se traduz na estabilidade da moeda, e tem toda a função do equilíbrio cambial; é um órgão que se ocupa com a estabilidade da economia, que tem que se preocupar quando aumenta o volume do dinheiro de alta potência", explica Freitas. Ele fala que, quando o banco aumenta os juros, "tem que dosar, para saber o que está combatendo, sem exagerar. Não precisa desse dispositivo [meta de emprego], porque nenhum presidente do BC vem do planeta Marte e está desvinculado da economia real", diz.

"O pessoal da esquerda gosta disso", completa o ex-diretor da instituição. "No curto prazo, pode ocorrer redução da demanda agregada, para evitar que a inflação ganhe vida própria, o que vai restringir o pleno emprego. Com a estabilização da moeda, ao contrário, a economia volta com mais força, e mais substancial".

Maílson da Nóbrega também considera que a proposta do ex-presidente agrade às pessoas que compartilham das mesmas ideologias. "Ele falou para suas bases. O Lula e o economista do PT se inspiraram nos Estados Unidos, apesar de os criticarem tanto, onde o banco central se preocupa com os empregos, por causa de debates que aconteceram nos anos 1950. Isso foi muito particular de uma época", conta.

"Hoje, o Fed [Federal Reserve, o banco central americano] já achou uma maneira de sair pela tangente, e se preocupa com inflação e com emprego da seguinte maneira: se a política monetária afetar os empregos, eles baixam os juros, e quando a economia cresce, ela gera empregos, de maneira indireta. Funciona, mas não significa que é o certo", diz o ex-ministro.

Assim como Freitas, Nóbrega também afirma que a Lei Complementar n°179 prevê que o BC fomente o pleno emprego. "Se preocupar com o nível de emprego é diferente de ter uma meta, que é uma esquisitice. O banco não pode perseguir metas conflitantes", analisa.

Tatiana Nogueira, economista da XP Investimentos, afirma que a grande maioria dos bancos centrais tem uma única meta, que é a de inflação. "Vivemos um momento inflacionário, e o Banco Central optou por fazer o que for necessário para levar a inflação até a meta, mesmo que isso custe a desaceleração, ou até a recessão da atividade econômica e o aumento do desemprego. Na hora de escolher, a opção foi pela manutenção da estabilidade dos preços", explica. 

Ela diz que essa estabilidade é fundamental para garantir o crescimento futuro. "Eu acredito que até existam discussões [sobre meta de empregos], por falta de entendimento de como opera o Banco Central, mas já se olha para isso, há um cuidado para suavizar e não fazer movimentos bruscos, que afetem a atividade econômica e o emprego", finaliza.




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