O lançamento do estudo “Os Impactos da Violência Armada na Vida das Mulheres da Maré: gênero, território e prática artística”, na tarde desta sexta-feira (14) no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, foi interrompido por um tiroteio.
O estudo qualitativo lançou um olhar científico sobre relatos de como os tiroteios impactam a vida de mulheres da região. Realizado como parte do projeto De Olho na Maré, mantido pela organização não governamental Redes da Maré, ele envolveu pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de duas instituições britânicas, as universidades de Warwick e de Cardiff.
A denúncia da ação policial durante o evento de lançamento é da deputada estadual Renata Souza, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Ela participava do encontro na Casa das Mulheres da Maré, com cerca de 70 mulheres, quando o lançamento foi abruptamente interrompido por violento tiroteio. As participantes tiveram que correr para dentro da sede da ONG buscando proteção contra os tiros. Segundo a deputada, os disparos partiram de um helicóptero.
Também ficaram presas no local as pesquisadoras Claire Blencowe (Universidade de Warwick), Joana Garcia (Escola de Serviço Social da UFRJ), Julian Brigstocke (Universidade de Cardiff) e Rosana Morgado (Escola de Serviço Social da UFRJ).
A deputada entrou em contato com o governador Cláudio Castro e denunciou a situação ameaçadora criada pelo Estado para a população da favela, em plena hora de saída das escolas.
“Vim aqui convidada para falar dos impactos da violência na vida das mulheres e está se armando uma operação gigante, de improviso, no horário de saída das crianças da escola. Já tem gente baleada aqui na Maré e gostaria que o senhor fosse sensível a isso e visse o que está acontecendo. Estou aqui dentro da ONG em uma situação delicadíssima, com mulheres desesperadas”, falou Renata Souza para o governador, em áudio obtido pela Agência Brasil.
“Como mulher preta e cria da Maré essa não foi a única vez, infelizmente, em que vivi e testemunhei essa situação aterrorizante. Mas como parlamentar, representante do povo, sim, é a primeira situação de perigo real que enfrento junto dos moradores da favela”, declarou a deputada.
De acordo com a Polícia Civil, agentes da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), que fazem ações diárias no entorno do Complexo da Maré “para evitar que cargas roubadas entrem na comunidade”, foram atacados a tiros por criminosos na Avenida Brasil, em um dos acessos à Nova Holanda. Uma viatura foi alvejada com 4 tiros de fuzil, segundo informou a corporação.
“Os policiais perseguiram os criminosos, que escoltavam uma carga roubada de polietileno, no valor de R$ 2 milhões, e que foi recuperada no interior da antiga garagem de uma empresa de ônibus desativada, na entrada da comunidade”, diz a nota.
A Polícia Civil informou, ainda, que durante o confronto, os policiais tomaram conhecimento de um atendimento com defensores públicos na comunidade do Parque União e “se ofereceram para retirar a defensora do local, mas ela se recusou a entrar na viatura policial”. Não há informações sobre feridos, de acordo com a nota.
* Matéria atualizada para incluir o posicionamento da Polícia Civil.