O estudo inédito Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023, realizado em conjunto pela Gestão Kairós - Consultoria de Sustentabilidade e Diversidade e o Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), confirmou que a publicidade feita no Brasil é branca e masculina, em sua grande maioria. “A gente tem algumas reflexões quando fala de mulheres no censo de publicidade inclusiva”, disse à Agência Brasil a presidente da Gestão Kairós, Liliane Rocha (foto em destaque).
Os resultados da pesquisa foram mensurados no início deste ano, após a realização de entrevistas, no final do ano passado, com os líderes das agências respondentes, que somam cerca de 6,2 mil funcionários.
A primeira reflexão é que quando se olha para o quadro funcional, percebe-se um percentual até expressivo de mulheres (57%), em sua grande maioria brancas. Quando o estudo estratifica e vai olhar as mulheres negras, vê-se que elas são minoria no quadro das agências (21%), embora este seja um percentual positivo em comparação com outros setores. Liliane disse, porém, que ao se pesquisar o nível profissional de gerente para cima, são 49,8% de mulheres, em geral, ocupando esses cargos, contra 10,3% de negros (pretos + pardos). Para as mulheres negras, entretanto, esse percentual cai para somente 4,6%. No nível de diretor presidente e presidente (CEO), o número de mulheres negras é 0%, contra 15% de mulheres brancas e 8% de homens negros (pretos + pardos).
De acordo com a pesquisa, o setor de publicidade e propaganda brasileiro é liderado por pessoas brancas, que correspondem hoje a 88% da liderança (nível gerente e acima) e 92% do nível CEO/presidente e por homens, que são respectivamente 50,2% e 85% dessas posições. Olhando as áreas que as representantes do sexo feminino ocupam nas agências de publicidade e propaganda, constata-se que a maioria delas está no atendimento e não nas áreas de criação, planejamento, mídia, digital. “O que, por si só, já é uma reprodução do machismo estrutural na sociedade. Quer dizer, contratamos mulheres nesse setor, mas para um segmento específico relativamente menos estratégico”, apontou Liliane.
“Acho que são dois olhares aí. Um se refere à área que está sendo destinada às mulheres em geral, na publicidade e propaganda e, outro, como a gente precisa conversar sobre isso e mudar esse cenário. E quando a gente olha para a interseccionalidade de mulheres negras, elas nem estão chegando lá”. O desafio é como fazer para contratar mais mulheres negras, para ter um protagonismo de pessoas negras, em geral, nesse setor, propôs Liliane.
O Observatório da Diversidade na Propaganda foi criado em julho de 2021 com o objetivo de acelerar a inclusão de grupos minorizados na indústria da comunicação. É constituído por 28 agências signatárias, das quais 24 participaram do estudo. Em abril deste ano, as 28 agências foram reunidas pelo Ministério Público Federal para assinar compromissos e metas no período de cinco anos, visando impulsionar a representatividade da demografia brasileira, proporcionalmente, nas agências de publicidade e propaganda no Brasil.
Foram estabelecidas, na ocasião, 36 metas, propostas pela Gestão Kairós para o ODP, cuja diretoria está procedendo à revisão. Essas metas incluem, no período de cinco anos, contratação de talentos diversos; diversidade no casting e cadeia de fornecedores; retenção e desenvolvimento; e cultura organizacional. Foram apresentadas três macrofrentes de atuação: quadro funcional e liderança em níveis de gerente e acima; representatividade proporcional no quadro; critérios de diversidade para contratação de fornecedores.
Liliane Rocha relatou que muitas agências que contratam mulheres, negros, pessoas com deficiência, maiores de 50 anos de idade, pessoas LGBTQIAP + (pessoas lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans, não binárias e demais orientações sexuais e de gênero) observam que elas não permanecem nos empregos. “Precisamos olhar para essa questão”. No tópico de cultura organizacional, destacou que é necessário entender por que o setor não traz mais dessas pessoas para os seus quadros e por que elas não ficam nas agências. O objetivo é ter diversidade e uma publicidade no Brasil mais inclusiva.
Edição: Aline Leal