O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse nesta terça-feira (15) que a interrupção no fornecimento de energia elétrica registrada pela manhã em todas as regiões do país foi um evento extremamente raro. Por isso, além das apurações internas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi solicitado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública que a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também investiguem com detalhes as causas da falta de energia.
“Tenho absoluta convicção de que o ONS, até pela sua característica técnica, não vai ter condição de dizer textualmente se esses eventos foram eminentemente técnicos, ou se houve também falha humana ou até dolo”, disse o ministro, lembrando que o setor é altamente estratégico, sensível e fundamental para a sociedade brasileira.
O governo já sabe que houve na manhã de hoje uma sobrecarga em uma linha de transmissão de energia no Ceará, o que fez com o que o sistema entrasse em colapso nas regiões Norte e Nordeste. Quando isso ocorreu, o ONS modulou a carga que estava sendo enviada para o Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste, como forma de proteção, o que fez com que a energia fosse reduzida nessas regiões. Houve pelo menos 16 mil megawatts (MW) de interrupção de energia.
Segundo o ministro, o ONS ainda irá avaliar se houve outro evento no mesmo horário, em outro local do país. “O único evento que se pode afirmar é esse no Ceará. Ainda não há outro evento apontado pelo ONS, mas leva-se a presumir que tivemos um segundo evento que causou esse evento dessa magnitude”, disse. Silveira pontuou que o país trabalha com um sistema de energia redundante e, para que tenha havido uma interrupção dessa magnitude, devem ter ocorrido dois eventos ao mesmo tempo. Alexandre Silveira citou os casos de ataques a torres de transmissão de energia registrados em janeiro deste ano.
“Graças à robustez do nosso sistema, para que haja um evento dessa magnitude, há de se haver uma redundância de fatos relevantes”, disse. A previsão é que, em 48 horas, o ONS aponte o que fez com que o sistema tivesse tido essa interrupção.
Segundo o MME, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste a energia voltou cerca de uma hora depois da interrupção e, no Norte e no Nordeste, o fornecimento foi completamente restabelecido às 14h49.
O ministro explicou que o ocorrido hoje não tem nada a ver com o suprimento e a segurança energética do Brasil. “Vivemos um momento de abundância nos reservatórios”, destacou Silveira, lembrando que recentemente o Brasil exportou energia para a Argentina quando os reservatórios de Itaipu e Furnas estavam vertendo água.
A queda de energia atingiu 25 estados e o Distrito Federal. O único estado que não foi afetado foi Roraima, que não é integrado ao Sistema Interligado Nacional. Cerca de 27 milhões de pessoas foram atingidas, o que representa um terço dos consumidores brasileiros.
Durante a entrevista coletiva, o ministro fez críticas à privatização da Eletrobras, que detém a maior parte da geração e transmissão no Brasil. “Eu seria leviano em apontar que há uma causa direta [desse evento] com a privatização da Eletrobras. Mas a minha posição sempre foi a de que um setor como este deve ter uma mão firme do Estado brasileiro, como saúde, segurança e educação”, disse.
Matéria ampliada às 18h28
Edição: Lílian Beraldo
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O apagão de seis horas que afetou 25 Estados e o Distrito Federal foi causado pela “falta de planejamento” do setor elétrico brasileiro, segundo Clarice Ferraz, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e diretora do Instituto Ilumina. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, uma sobrecarga no Ceará interrompeu o abastecimento por seis horas em quase todo o país, atingindo. Em entrevista ao Jornal Jovem Pan, da Jovem Pan News, Ferraz destacou o crescimento desordenado do setor elétrico brasileiro e alertou para o risco de novas intercorrências. “Eu vou contradizer o ministro [Alexandre Silveira, de Minas e Energia]. Na verdade, a sobrecarga é característica por um sistema que está crescendo de forma desordenada. Há muita geração, uma geração difícil, de origem renovável, caracterizada por flutuações e muito concentrada no Nordeste. Para ela poder ser escoada, não basta só aumentar. E foi isso que aconteceu no setor elétrico brasileiro nos últimos anos. Em paralelo, não tem investimento na infraestrutura. A gente está gerando demais para o que o sistema pode aguentar. E isso é falta de planejamento. Um apagão desse tamanho, dessa gravidade, é um problema de segurança energética. Quando a gente gera demais, traz problema”, disse. “Tem, sim, risco de se repetir. Há uma sobrecarga, a gente continua com o excedente de geração. Portanto, se a gente não fizer um sistema de manutenção, não colocar que se desliga mais rapidamente ou que permita localizar logo o problema, pode acontecer novamente. A gente está com o sistema desequilibrado. Se a gente não tomar pé da situação e não encarar que há um problema de planejamento que ameça segurança energética, este será o primeiro [apagão] de alguns, se não houver outros mais severos”, alertou.
(Jovem Pan)
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Ministros e parlamentares do governo e da oposição se manifestaram nas redes sociais sobre o apagão que atingiu todas as regiões do país na manhã desta terça-feira (15). Em algumas cidades, a queda de energia durou alguns minutos. Em outras, a população continuava sem luz até a última atualização desta reportagem.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que determinou a criação "imediata" de uma sala de situação para acompanhar o processo de retomada da energia, bem como apurar as causas do apagão.
Às 9h39, o Ministério de Minas e Energia afirmou em nota que, a partir de dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), registrou "uma ocorrência na rede de operação do Sistema Interligado Nacional (SIN)" que provocou a "separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul e Sudeste do país", com a interrupção de pelo menos 16 mil megawatts de carga.
Os deputados federais Éder Mauro (PL-PA) e Nikolas Ferreira (PL-MG) se manifestaram sobre a queda de energia e criticaram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em uma rede social, Ferreira afirmou que houve um "apagão, mas com amor", em referência à frase usada por apoiadores de Lula depois das eleições: "O amor venceu".
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) questionou a possibilidade de o evento ter sido um "boicote" e lembrou que o Operador Nacional do Sistema (ONS) e as distribuidoras privadas ainda não se pronunciaram.
O apagão aconteceu horas depois que Wilson Ferreira Júnior pediu demissão da presidência da Eletrobras. Na noite desta segunda-feira (14), a empresa informou em comunicado que Ferreira Júnior renunciou ao cargo de CEO, mas não disse por qual motivo ele pediu para deixar o posto.
A demissão de Ferreira Júnior foi acatada pelo conselho de administração da Eletrobras. Para o lugar dele, o colegiado escolheu Ivan de Souza Monteiro, que estava na presidência do próprio conselho.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) prestou solidariedade às pessoas afetadas pela queda de energia e disse que a criação do gabinete de crise pelo Ministério de Minas e Energia é um "passo importante" para solucionar a situação e "garantir que medidas efetivas sejam tomadas para restaurar o fornecimento de energia".
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, decidiu antecipar o retorno ao Brasil após todas as regiões do país terem registrado queda de energia. Silveira tinha viajado para o Paraguai com o presidente Lula para presenciar a posse do presidente eleito do país vizinho, Santiago Peña.