O autor da denúncia que gerou o processo por homofobia contra o vereador Douglas Medeiros (PSDB), da Câmara de Jundiaí, diz estar surpreso com a “vaquinha” virtual que o parlamentar lançou para pagar pela multa à Justiça, no valor de R$ 42.131,11.
Reinaldo Fernandes, assistente social de 58 anos, se identificou após a repercussão da reportagem publicada nesta terça-feira (12) pelo Jornal de Jundiaí, sobre a campanha criada pelo vereador tucano para arrecadar verba com o objetivo de custear o processo que teve início em 2017 e foi decretado nos últimos dias. “Foi uma surpresa ver essa ‘vaquinha’, porque eu tinha até esquecido de tudo isso. É muito descalabro. O vereador não assume o que fala, ele não é inocente como diz”, afirmou a imprensa
ENTENDA O CASO
Reinaldo foi uma das pessoas a interagir em uma postagem de autoria de Douglas, naquele ano, a respeito do projeto que previa a reforma administrativa municipal. À época, o vereador enviou à Câmara uma proposta de alteração no texto, assinado pelo prefeito recém-eleito Luiz Fernando Machado, extinguindo os cargos para Assessor de Políticas para LGBT que a matéria criava. “Eu entrei para ler os comentários nessa postagem e vi que tinha um homofóbico. Fui lá e escrevi que posturas como essa do vereador favorecia esse tipo de declaração”, relata.
Segundo ele, o parlamentar respondeu à sua fala, dizendo que seguiria “repudiando esse movimento que está destruindo a liberdade, atacando a família, promovendo intolerância religiosa, promiscuidade, pornografia, adultério e pedofilia”, referindo-se à população LGBTQIAPN+. “Sou pai de um filho homossexual e me senti ofendido, então pedi um espaço na tribuna livre da Câmara para denunciar o vereador”, diz Reinaldo.
Em sua fala, à qual a imprensa teve acesso pelo arquivo da gravação, o assistente social leu na íntegra a troca de comentários dentro da publicação de Douglas. Segundo ele, o parlamentar saiu do plenário quando ele começou a discursar e, após sua aparição, deletou a postagem, mas o caso chegou à OAB Jundiaí, que o procurou, por meio da Comissão de Diversidade Sexual, solicitando autorização para protocolar oficialmente uma denúncia em seu nome.
Sua fala viralizou pelo Brasil e, segundo ele, vários líderes e movimentos de defesa social o procuraram para manifestar apoio, inclusive a cantora Daniela Mercury. “Foram quase 200 pessoas a me apoiarem. Mas infelizmente não me conformo, porque ele não é vítima. Ele se coloca como cristão, mas eu também sou cristão, então não sei que Cristo é esse e que família é essa. Na minha igreja eu luto pelos direitos LGBT e enquanto assistente que atua na periferia eu sei bem que essa formatação de família ‘tradicional’ que ele defende não existe”, lamenta.
O VEREADOR
À reportagem, na última segunda-feira (11), Douglas Medeiros se defendeu das acusações que geraram o processo, afirmando não ser autor de nenhum comentário homofóbico e que recebeu com “tristeza e indignação” a notícia de que fora multado pela Justiça.
Ele responde por discriminação em razão de orientação sexual em um processo no âmbito da Secretaria Estadual de Justiça e Defesa da Cidadania.
O vereador disse que decidiu criar a “vaquinha” por incentivo de amigos próximos, e que espera atingir “em breve” o montante estabelecido como meta. Até o momento, mais de R$ 17 mil já haviam sido transferidos de 112 pessoas.
A reportagem procurou o parlamentar novamente, ontem, para falar sobre as falas de Reinaldo. Em sua resposta, ele afirmou preferir “não entrar nessa polêmica”, afirmando que muitas pessoas aparecem para “se promover nesses momentos”.