Pela complexidade do sistema de túneis, Israel o batizou de "metrô de Gaza". O tamanho desse "metrô" é incerto. Em 2021, Yihyah Sinwar, o líder do Hamas em Gaza, afirmou que o grupo terrorista tinha 500 km de perfurações para circular sob a terra. Israel afirmou ter bombardeado cerca de 100 km da rede subterrânea do grupo terrorista, construída para proteger os membros da organização.
"Construímos os túneis porque não temos outra maneira de nos proteger de sermos mortos", afirmou Mousa Abu Mazouk, um dos líderes dos terroristas Hamas, em entrevista que foi traduzida pelo Instituto de Pesquisa do Oriente Médio. "As passagens são feitas para nos proteger de aviões. Estamos lutando dentro delas."
Os túneis do Hamas começaram a ser construídos em 2007, quando Israel e Egito impuseram um rigoroso bloqueio em Gaza depois que o grupo terrorista assumiu o controle do território palestino. As passagens subterrâneas começaram a ser escavadas entre a fronteira de Gaza e o Egito para contrabandear armas e outros itens ilegais. Embora as autoridades egípcias tenham fechado a maior parte desses túneis com o tempo, a experiência levou a organização extremista a abrir, dentro do enclave palestino, uma extensa rede subterrânea.
Construir túneis subterrâneos é uma antiga estratégia de grupos radicais. Apesar disso, batalhas em túneis são consideradas difíceis para confrontos bélicos. A situação do Hamas em Gaza é particularmente mais complexa.
Segundo a professora Daphné Richemond-Barack, especialista em conflitos bélicos em ambiente urbano, do Instituto Internacional de Contra-terrorismo da Universidade de Reichman, em Tel Aviv, destruir os túneis do grupo terrorista palestino consiste em um desafio triplo. Os túneis estão em zona urbana, onde há população, e abrigam reféns — que somam pelo menos 242, segundo o último balanço. Ela ressalta que é quase impossível ignorar os dois primeiros fatores citados, o que seria o terceiro obstáculo em jogo.
"Eu estive dentro dos túneis que estão na fronteira entre Gaza e Israel, do lado israelense, os que passam embaixo da fronteira", disse Daphné à RFI (Rádio França Internacional). "Eu também estive em túneis que foram feitos pelo Hezbollah, na fronteira com o território israelense. Há 20 anos, o Hamas trabalha nesses túneis, então não é uma grande surpresa para o mundo que eles existam. É um trabalho longo realizado pelo Hamas para construir uma rede subterrânea extremamente complexa, extremamente sofisticada e que torna esse grupo quase impenetrável."
John Spencer, um major aposentado do Exército dos Estados Unidos e presidente de Estudos de Guerra Urbana no Instituto de Guerra Moderna em West Point, também reconhece a complexidade de batalhas em túneis. Ele compara esse tipo de confronto com uma caminhada na rua à espera de um "soco na cara". Ao mesmo tempo que "você não pode vê-los", "eles podem ver você", disse Spencer à agência de notícias AP (Associated Press).