O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou na terça-feira (14) que as acusações que estão sendo feitas contra Israel são "absurdas" e que o país age em consonância com o direito internacional ao se defender do Hamas. A declaração de Scholz foi feita horas depois de o presidente brasileiro dizer que o "comportamento de Israel fazendo o que está fazendo com criança, hospital, com mulheres [...] é igual ao terrorismo"
"Israel é uma democracia. Temos que deixar isso bem claro [...]. É um país comprometido com os direitos humanos e a lei internacional e age de acordo com eles. E esse é o porquê das acusações feitas contra Israel serem absurdas. Não pode haver dúvida quanto a isso", afirmou Scholz, nesta terça-feira (14), em resposta ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que chamou o governo israelense de "fascista".
Na segunda-feira (13), o premiê britânico, Rishi Sunak, também reconheceu que Israel "deve ser capaz de se defender contra o terrorismo, restaurar a sua segurança e trazer os reféns para casa", desde que aja dentro do direito internacional. Na avaliação de Sunak, o "terrível ataque a Israel" promovido pelo Hamas foi motivado não apenas pelo ódio, mas pelo medo de que o governo israelense viesse a "normalizar as relações com os seus vizinhos e que desse esperança de um caminho melhor, mais seguro e mais próspero".
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao defender as ações israelenses, também pondera a necessidade de se manter na linha do que prevê o direito internacional. "Israel combate um inimigo integrado na população civil, o que coloca em risco pessoas palestinas inocentes. Tem a obrigação de distinguir entre terroristas e civis e de cumprir integralmente o direito internacional", disse, no último dia 9.
Ainda em outubro — dias após o Hamas realizar o ataque-surpresa contra Israel que culminou na intensificação do conflito —, Biden e os líderes da Alemanha, Grã-Bretanha, França e Itália emitiram uma declaração conjunta condenando as ações terroristas e expressando apoio aos israelenses.
"Permaneceremos unidos e coordenados, juntos como aliados e como amigos comuns de Israel, para garantir que Israel seja capaz de se defender e, em última análise, estabelecer as condições para uma região pacífica e integrada do Médio Oriente", diz a declaração. Além de Biden, Scholz e Sunak, assinaram o comunicado o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
Representantes da comunidade judaica no Brasil temem que as falas de Lula diminuam a relevância diplomática brasileira na busca por soluções ao conflito. Há também o temor de que as críticas dificultem a repatriação de novos grupos de brasileiros que ficaram na Faixa de Gaza e que queiram retornar o Brasil em algum momento.
"É uma pena que o governo do Brasil, diante da tragédia da guerra, perca o equilíbrio e a ponderação, reduzindo a possibilidade de contribuir de maneira decisiva e propositiva com negociações entre as várias partes no conflito", declarou o Instituto Brasil Israel (IBI), completando que a acusação feita pelo presidente "reforça os extremistas de ambos os lados e enfraquece as partes que lutam por um futuro de coexistência para israelenses e palestinos".
O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, classificou como "equivocadas e perigosas" as falas de Lula. "Além de equivocadas e injustas, falas como essa do presidente da República são também perigosas. Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil", disse Lottenberg. "A comunidade judaica brasileira espera equilíbrio das nossas autoridades e uma atuação serena que não importe ao Brasil o terrível conflito no Oriente Médio", acrescentou.
O Grupo Parlamentar Brasil–Israel e a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional emitiram uma nota conjunta repudiando o posicionamento do presidente, afirmando que a condução "leva o Brasil a se apequenar no cenário mundial entre os países desenvolvidos e democráticos".
Lula classificou como "inadmissível" o fato de ainda não ter sido encontrada uma solução para o conflito. Em sua avaliação, o Brasil fez um trabalho "extraordinário" à frente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em outubro. Nesse sentido, ele voltou a criticar o direito de veto dos integrantes permanentes do órgão. "A ONU precisa mudar", comentou. "A ONU de 1945 não vale mais nada em 2023."