A reportagem conversou com familiares de Apollo Gabriel Rodrigues, de 2 anos, que morreu ao ser esquecido dentro de uma van escolar, na zona norte de São Paulo. Em um dos dias mais quentes do ano, a criança passou cerca de sete horas dentro do veículo que o levaria para a sua escola. Veja o depoimento da mãe e a avó da criança após a tragédia
No dia em que os termômetros marcavam quase quarenta graus nas ruas, Apollo foi até a creche onde passaria o dia, mas nunca voltou. Ao ser deixado na van pelo motorista que fazia o transporte dos alunos, o garoto morreu pelo calor extremo. Ao perceber o erro que havia cometido, o condutor levou imediatamente a criança ao hospital, mas ele já chegou lá sem vida
A avó do menino, Luzinete Rodrigues dos Santos, contou que Apollo estava preso na cadeirinha pelo cinto de segurança e não conseguiu sair. "Fico pensando no que ele passou lá dentro", lamentou.
Em entrevista, o pediatra Paulo Telles alerta sobre o perigo de expor crianças a condições de altas temperaturas. Segundo o especialista, os pequenos acumulam mais o calor no corpo e, como passar do tempo, os órgãos vitais param de funcionar. "Para crianças de 1 a 5 anos, de 30 a 60 minutos em um carro fechado já o suficiente para morrer", explicou o médico. No caso de Apollo, ele ficou 7 horas dentro do veículo.
A mãe da criança, Kaliane Rodrigues, revelou que no dia em que viu o filho com vida pela última vez, ele não queria entrar na perua do transporte. Ela disse que sentiu algo estranho, pois isso nunca havia acontecido. Mas, mesmo com a criança chorando, ela o embarcou na van. Revelou, também, que Apollo sempre era colocado nas primeiras cadeiras do veículo e, nesse dia, o colocaram nas últimas. "Como esqueceram meu filho o dia inteiro?", indagou.
Luzinete era quem aguardava a chegada no neto na volta da escola. Como de costume, ela foi esperar a van no local sempre combinado e, pela demora, achou apenas que teriam atrasado. Após esperar por cerca de trinta minutos, ela recebeu uma mensagem dos responsáveis pelo transporte, avisando que Apollo estava no hospital. "Nunca imaginei que meu neto iria morrer", confessou.
Durante todo o dia, a van em que Apollo estava preso ficou estacionada em um terreno sem cobertura solar. De acordo com o Boletim de Ocorrência, a criança entrou no veículo por volta das sete da manhã, horário de ida para a escola, e permaneceu até as três da tarde, quando deveria voltar para casa depois da aula. O motorista, quando percebeu, tentou socorrê-lo, mas já era tarde demais
A equipe de reportagem acompanhou a saída do casal responsável pelo transporte da delegacia. Flávio Robson Benes, de 45 anos, e Luciana Coelho Graft, de 44, foram levados para o Fórum, onde uma audiência de custódia vai decidir se eles permanecem presos ou se responderão pela morte da criança em liberdade
Em nota, a Prefeitura de São Paulo disse que lamenta o ocorrido, e presta todo o tipo de apoio necessário aos familiares. Além disso, destacou que Flávio, motorista do transporte escolar gratuito, já foi descredenciado
A família de Apollo comemorou seu aniversário dias antes do ocorrido e, agora, sofrem com a perda. "Eu espero justiça", afirmou a avó. Ela ainda reforçou que quando se trabalha com crianças, é preciso dar o melhor de si, e ainda não tiveram acesso nem a mochila do neto após a tragédia.