O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, condutor do Porssche que matou o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, após bater no carro dele, um Renault Sandero, na madrugada do último domingo (31) havia recuperado sua CNH (Carteira Nacional de Habilitação) 12 dias antes do acidente, segundo a polícia Civil de São Paulo. A razão da suspensão não foi confirmada oficialmente. Entre as multas que causaram excesso de pontos na carteira e a consequente suspensão está uma por excesso de velocidade, de 31 de dezembro de 2020, em Cascavel (PR). A infração é punida com sete pontos. Em depoimento, o empresário afirmou que dirigia o Porsche “um pouco acima” do limite de velocidade da Avenida Salim Farah Maluf, mas não precisou sua velocidade exata. O limite da via é de 50 km/h. Ele negou que estivesse sob efeito de drogas ou bebidas alcoólicas. A defesa do empresário, em nota assinada por Carine Acardo Garcia e Merhy Daychoum, considera o ocorrido como “uma fatalidade”. O empresário foi indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de matar, além de lesão corporal, pois ele levava um passageiro, além de fuga do local de acidente.
A Polícia Civil também investiga as razões para os policiais militares que atenderam à ocorrência terem liberado o empresário, que se apresentou quase 40 horas depois do acidente de trânsito. No registro da ocorrência, policiais que atenderam o caso afirmam que a mãe de Andrade Filho compareceu ao local e disse que levaria o filho ao Hospital São Luiz, no Ibirapuera, zona sul, para tratar de um ferimento na boca. Quando os agentes foram até ao hospital para fazer o teste do bafômetro e colher sua versão do acidente, não encontraram nenhum dos dois. O empresário negou que tivesse fugido do local do acidente. Disse que foi o “último a sair do local com sua mãe” e que seu amigo e Ornaldo já haviam sido socorridos. Os advogados afirmaram que ele apenas se “resguardou de linchamento”.
No depoimento, o empresário admitiu que não foi para nenhum hospital porque sua mãe passou a receber “ameaças pelo celular”. Ele afirmou que não viu quais ameaças porque sua mãe não havia deixado que ele visse as mensagens. O ouvidor Claudio Silva disse à reportagem do Estadão que a Ouvidoria da Polícia Civil acionou a Corregedoria da Polícia Militar para apurar a conduta dos agentes.
O motorista de aplicativo Ornaldo Viana foi velado e sepultado na tarde de segunda-feira no Cemitério Bonsucesso, em Guarulhos, na Grande São Paulo. “Meu pai não merecia essa crueldade”, disse um dos filhos da vítima, Lucas Morais, 28 anos, que tem a mesma ocupação do pai. Viana nasceu em Codó, no Maranhão, e morava atualmente em Guarulhos. Pai de três filhos, o motorista era evangélico da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). Era do tipo brincalhão, extrovertido, riso fácil, de acordo com os amigos. A dor da perda dá espaço à indignação. “Porque não fizeram o bafômetro? Por que liberaram ele (o motorista do Porsche)? Não entendo muito de lei, mas não podem liberar ninguém depois de um acidente daquele”, disse.
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